Eu comi uma perninha de
frango hoje, depois que voltei para casa. Só sobrando osso, ao final do meu
lanchinho, joguei o resto na lata de lixo que fica em cima da pia, destinada a
restos de comida e guardanapos sujos. Pus a tampa em cima.
Mais tarde, já à noite,
fui esquentar o jantar. Enquanto a torta que iria nos alimentar assava dentro
do forno, lembrei de um pedacinho de pizza, da noite anterior, que sobrava na
geladeira. Comi, não sem antes retirar o tomate, que detesto, e jogá-lo dentro
da mesma lata de lixo. Pus a tampa novamente.
Importante lembrar que,
tanto durante meu lanche, quanto durante o jantar, uma das minhas gatas, a
Barbarella — nome dado em homenagem a famosa heroína dos gibis encarnada, no
cinema, pela lindíssima Jane Fonda — pedia a nossa comida. Como de hábito.
Porém, ultimamente, não estamos mais dividindo a nossa comida com ela, por
ordens de caráter veterinário.
Alguns minutos após o
jantar, no qual fui acompanhado por minha avó, saí para comprar cigarros.
Passei pela cozinha e vi a tampa da lata de lixo fora do lugar e o tomate da
pizza jogado ao lado da lata. Sem dar muita importância ao fato, joguei a
rodela de novo dentro do lixo e tapei. Saí em seguida.
Quando volto, me deparo
com a cuidadora da minha avó perguntando algo sobre “o moço”. Sem entender
direito, perguntei “que moço?”. Ela, sem entender o que eu disse, respondeu:
— Ela está na sala com
um moço!
Na hora corri para a
sala. Minha avó estava com um moço na sala. Não poderia ser ninguém conhecido.
Caso contrário, a cuidadora não iria se referir a ele como “moço”. No meio do
caminho, vi um osso no chão... aos poucos, tudo começou a fazer sentido. A cuidadora
recolheu o osso e jogou fora, na mesma lata de lixo. Então, ela começou a
explicar:
— Antes de você sair,
nós ouvimos um barulho. A Chiquinha (a minha outra gata — não me pergunte o
motivo do nome. Quando a adotamos, ela já estava batizada) que estava bem ali
(apontando para um lugar visível) saiu correndo.
— Quando eu saí, vi a
lata de lixo destapada e uma rodela de tomate em cima da pia...
Mistério resolvido: ou
a Barbarella está gagá ou está agindo em represália contra a recusa de nossa
parte em lhe fornecer alimentos temperados para o paladar humano. Chegou ao
cúmulo de subir na pia, no momento em que ninguém via, retirar a tampa do lixo,
fuçar lá dentro até achar o resto do frango, retirar (sabe-se lá como) o osso e
leva-lo para a sala. Com a perspicácia de retirar, antes, os itens que estavam
por cima de seu objeto de desejo e dificultavam seu plano.
O crime foi quase perfeito.
Ela deixou pistas. E tamanha audácia de nada adiantou, pois quando eu como
frango, só sobra mesmo o osso.