6:00 AM – O galo canta e o gorducho acorda amaldiçoando a ideia de marcar o exame para um horário tão cedo. Em tempo: “o galo canta” não é nenhum tipo de metáfora. É o toque do despertador do meu celular. Cambaleando levanto e vou até a cozinha preparar meu café da manhã. Meu exame está marcado para as 8:20h, não posso comer muito, afinal é um exame ergométrico e não quero vomitar na esteira. Não posso fumar e nem ingerir cafeína duas horas antes do exame. Já estou puto!
6:20 AM – Olhos no relógio e raciocino: o exame começa as 8:20. Se eu fumar agora, contando com o atraso de praxe dos laboratórios, vai dar mais de duas horas sem fumar. Tudo bem. Fumo.
6:25 AM – Vou até o banheiro colocar a leitura em dia. Em seguida tomo banho e fico desenhando formas geométricas no vapor da porta do box. Vou até o quarto, coloco a roupa e vou pegando toda tralha pra levar: mochila, água, toalhinha, camiseta pra trocar, pedido do exame, carteira de motorista, carteirinha do convênio. Enfio tudo na mochila e olho o relógio...
7:00 AM – Ainda!!! Preciso chegar ao laboratório vinte minutos antes do exame. Tenho que fazer dois: ergométrico e raio-x. Mas ainda tenho tempo. Resolvo ler as notícias no UOL. Percebo que estou sem óculos enquanto tiro a fuça da tela do computador e descubro que o monitor está em ordem. As letras tremidas foram causadas pela falta dos óculos. Menos mal. Não precisarei comprar outro monitor. Não por enquanto.
7:40 AM – Merda. Estou atrasado. Não devia ter perdido meu tempo vendo “as gatas do brasileirão” na internet. Ainda estou em casa quando deveria já estar lá. Pego a mochila com as tranqueiras e desço até a garagem. Jogo tudo no carro e ligo o motor. Desligo o motor em seguida para poder subir de volta ao apartamento e pegar o papel com o maldito endereço.
7:50 AM – Trânsito! Eu ainda não descobri que moro em São Paulo? Aliás, onde fica a rua do laboratório? Eu sei que é perto de casa, mas saber só isso não é suficiente. Vou adivinhando enquanto dou voltas inúteis e finalmente chego.
8:10 AM – Subo correndo e descubro que o exame de raios – x estava marcado para as 8:20. O ergométrico (que me proibia fumar e beber café) estava marcado para as 9:00. Estou com raiva. Podia ter fumado o último às sete horas, enquanto via as “gatas do brasileirão”.
8:30 AM – Sou chamado para fazer o raio-x. Em seguida, vou até o oitavo andar do prédio e aguardo a chamada para o próximo exame. Torço pra que uma gatinha me atenda. Não foi o caso. Inclusive, devido aos meus pensamentos raivosos com relação à estética da moça, acabo ficando com mais pena dela do que de mim mesmo. Culpo a falta do cigarro pela irritação.
9:00 AM – Dou graças a Deus por ser atendido por uma mulher feia no mesmo momento que ela pede que eu tire a camisa. A barriga está grande. A *%$@# da mulher raspa meu peito pra colocar os eletrodos. Começo exame, a pressão arterial está normal, subo na esteira e a mesma *%$@# que raspou meu peito inclina a esteira para simular uma subida. E a velocidade vai aumentando. Ódio. As pernas começam a doer e eu desejo ardentemente uma cama. A minha. Hoje vou dormir até sexta! Desço da esteira e a madame pergunta se estou bem. "Sim, claro, fui obrigado a não fumar, não tomar café, vi que poderia ter comido mais do que duas fatias de pão de forma com Toddy, você me fez correr, olho pra sua cara e me dá vontade de te jogar aqui de cima..." pensei. “Sim, estou bem” disse em voz alta. Deito na maca para que ela veja a pressão de novo e aproveito pra descansar. Explico pela milésima vez que respiro pela boca porque meu nariz é quebrado, torto, e a narina direita não funciona. Pergunto se posso ficar lá uns dez minutos, deitado, descansando. Diante da negativa, penso em um jeito de me vingar. Mas pensar, a essa altura, já está impossível.
NÃO SEI MAIS QUE HORAS SÃO – Espero o elevador por vários minutos ao lado de uma loira linda, alta, que parece alguém da televisão. Chegam os dois elevadores ao mesmo tempo e a vaca entra no outro. Ódio mortal.
Chego em casa e me ofereço pra fazer um macarrãozinho. Minha tia recusa. Maldito regime. Me entupo de refrigerante e cigarro e me jogo na cama. Hoje, vou dormir até sábado.