No
meio da noite, na balada, o isqueiro falha mais do que eu gostaria. Começo a
pensar na inconveniência de pedir que alguém acenda o meu cigarro. Por
incompetência minha, o gás do isqueiro já estava no fim e eu ia ter que tomar a
atitude que sempre reclamei quando alguém se dirigia a mim pedindo esse favor.
Bom,
confesso que emprestar o isqueiro não é um grande problema. O problema é que,
geralmente, o isqueiro é a segunda coisa a ser pedida. A primeira, é um
cigarro. Sim, porque o elemento fuma, mas não compra o maço. O sujeito vai para
a balada, sabe que vai querer fumar e não compra cigarro. Lembro-me de uma situação
recente, numa sexta-feira, quando uma pessoa inconveniente interrompeu uma
conversa agradável que eu tinha com um amigo que não via há tempos:
—
Por favor, poderia me dar um cigarro?
Contrariado,
puxei um cigarro do maço e joguei para ele. Tentei continuar a conversa com meu
amigo, mas reparei que o ser agradável estava plantado ao meu lado. Quando
olhei em sua direção, ele me pediu o isqueiro.
Mais
tarde, na mesma noite, a cena se repetiu. Fui obrigado a dizer que seria o
último cigarro que daria a ele.
No
dia seguinte, sábado, no mesmo bar, levei um susto: outra conversa interrompida
pelo mesmo rapaz e pelo mesmo motivo. O diálogo seguiu:
—
Me dá um cigarro?
—
Toda vez que você me encontrar aqui, você vai me pedir um cigarro?
—
Mas eu joguei meu maço fora...
—
Por quê?
—
Parei de fumar...
—
Parou de fumar e tá me pedindo cigarro? Por acaso sou obrigado a sustentar
vício de marmanjo?
Ele
foi embora, sem cigarro.
Foi
exatamente nisso que pensei quando me vi sem isqueiro no bar, na noite
agradável em que me vi sem isqueiro. Para não me tornar o inconveniente da vez,
resolvi voltar pra casa, pensando em passar na lojinha de conveniência do posto
para comprar um isqueiro novo. Paguei minha conta, peguei o carro e fui pra
casa.
Cheguei
em casa, liguei o computador para alimentar o vício dos joguinhos do Facebook e
fui acender um cigarro. Foi então que percebi que havia esquecido de passar no
posto...