SONO

          Hoje foi legal. No caminho para a faculdade, nunca me senti tão querido, famoso e bem visto pelas pessoas. Por onde eu passava com meu carro, eu percebia os olhares dos pedestres e ouvia as buzinas dos outros carros, cujos motoristas tentavam chamar a minha atenção com acenos amigáveis. Poxa, isso tudo só na ida, foi demais. Confesso ter ficado emocionado!

          Mais legal ainda foi dar passagem para uma menina loira cujo rosto não consegui ver em um primeiro momento. Em um carro cheio de adesivos da Hello Kitty e outros do gênero, com bichinhos de pelúcia pendurados no retrovisor e outros detalhes típicos de menininhas, ela tentava sutilmente entrar com seu carro na minha frente. Como gentil cavalheiro que sou, prontamente cedi o meu lugar, imaginando que a doce criatura poderia estar super atrasada para um compromisso.

          Curiosamente, ela seguia o mesmo caminho que eu, entrando no mesmo estacionamento que eu. Lá, pude ver que a doce menina loira era, na verdade um senhor idoso de cabelos brancos que provavelmente usava o carro da filha!

           Desce a cortina, por favor.

          Dirigir com sono é ruim demais. Culpa do livro “O Morro dos Ventos Uivantes”, que precisei ler para fazer a prova de hoje. Mas tudo bem. Agora tento me convencer de que os acenos e buzinas para mim de manhã, foram uma demonstração de carinho das pessoas que me vêem passar todos os dias pelo mesmo lugar. Assim espero.