HEROIS

          Engenheiros, médicos e físicos (e outros profissionais, talvez) japoneses, formaram um grupo voluntário de trabalho para tentar arrumar as coisas na usina nuclear, lá no Japão. Segundo eles, por terem mais de sessenta anos, até que os efeitos da radiação apareçam, eles já terão morrido. Ou estarão próximos disso. É por isso que lá, as coisas vão pra frente. Aqui, ninguém ia adotar uma idéia dessas, coitadinhos dos idosos. Já criaram os filhos, o futuro deles não será muito longo, têm mais experiência, mas poxa... São velhinhos. O que falta por aqui é gente assim mesmo, que chuta o próprio saco pelo bem alheio, sabendo que as bolas não lhe servirão mais. Mas isso, aqui, é coisa pra jovem.

          Veja bem: não é questão de ter pena ou não. A questão é outra. São verdadeiros heróis que sabem que não terão muito tempo de vida de qualquer forma e preferem se arriscar, a arriscar a vida dos próprios filhos. Sabem que, além disso, pouco poderão fazer pelo país. Um ótimo exemplo para todos nós.

          Na Inglaterra, a polícia prendeu suspeitos de planejar roubar e assassinar a cantora Joss Stone. Antes que pudessem fazer algo contra ela, claro. Aqui, ela seria roubada com certeza. E muitos apoiariam os ladrões, com a incrível desculpa de que ela tem tanto e outros têm tão pouco, como fizeram com o Luciano Huck, quando perdeu seu Rolex em um assalto. Ter dinheiro, aqui, é motivo de vergonha. Se for um dinheiro conseguido com o próprio trabalho (honesto), é mais vergonhoso ainda! Se por essas bandas, ela ainda fosse assassinada, seria só mais uma coitada jovem, que perdeu a vida em um assalto.

          Aqui, usa-se a lógica inversa: a polícia chega depois, alegando que não tem como adivinhar onde um crime será cometido. Lá, a polícia trabalha investigando, para evitar que aconteça o pior. Aqui, o jovem dá a cara à tapa, mesmo quando a lógica diz para fazer o contrário. Lá, os idosos se oferecem para uma missão arriscada, obedecendo a lógica de que, por vários motivos, eles são mais capacitados. E se oferecem, não esperam ninguém chamar para ir xingando ou tentar fugir.

          Mas quem foi que disse que heróis são personagens de ficção? No Japão e na Inglaterra, pelo jeito, são bem reais. Embora não possam voar, conseguem (ou pelo menos se esforçam muito) para salvar vidas. Sejam milhões de japoneses anônimos ou apenas uma inglesa famosa. Temos muito o que aprender por aqui.