Quando eu estava no colegial (na minha época era colegial. Hoje, chamam de ensino médio — como se o cocô fedesse menos quando chamado de fezes), eu tinha um amigo que era meio esquisito. Ele tinha teorias um tanto quanto absurdas sobre certas coisas. Uma vez, diante de uma possível briga entre ele e outro amigo, três vezes maior, ele me contou que sua estratégia seria grudar e se pendurar no oponente, impedindo-o de dar socos. Como se para o grandalhão, fosse muito difícil jogá-lo ao chão, como uma meia suja que vai para a máquina de lavar. Enfim, se suas teorias fossem colocadas em prática, ele estaria em maus lençóis.
Em uma outra ocasião, ele me fez andar de metrô com ele, saindo da estação paraíso e indo até Santana, para depois voltar tudo, sob o pretexto de que ele seria capaz de atravessar seu dedo no vidro da janela do trem sem quebrá-lo. A sua teoria era a de que, ao por o dedo no vidro e fazer movimentos circulares, ele conseguiria afastar as moléculas do vidro e seu dedo conseguiria atravessar. Ele jurava que havia dado certo no ônibus. Só teve um pouco de dificuldade em pegar o dedo de volta.
Como eu também não sou dos mais normais, resolvi aceitar o passeio. Eu sabia que ele não iria conseguir. A teoria, até faria sentido, se ele fosse mesmo capaz de afastar moléculas de vidros, o que não era o caso. Mas foi impagável vê-lo durante todo o percurso, desenhando círculos na janela do trem. Diante do fracasso, várias interrogações surgiram em cima de sua cabeça. Ele me perguntava como teria falhado no metrô se no ônibus havia dado certo. Respondi, tentando segurar a gargalhada, que o vidro da janela do ônibus era mais fino.
Ele era o rei das teorias. Comer papel para esconder o bafo de bebida (ele era alcoólatra) era outra. Lembro de outra ocasião em que ele estava e casa e íamos para um show que eu ia fazer. Como eu namorava uma menina que não tinha telefone, e eu precisava falar alguma coisa com ela, ele, do alto da sua falsa paranormalidade, diante de toda minha família, disse: “bem que ela poderia ter uma luz e ligar pra cá”. Todos ficaram quietos, esperando o telefone tocar, olhando pra ele, vendo sua expressão de “sou foda”. O telefone não tocou.
Esse cara sumiu. Alguém descobriu que ele era gay. Naquela época, era motivo de vergonha. Hoje em dia ninguém falaria nada, mas naquela época, ele escondia. Me achou no Orkut, mas logo sumiu de novo. Era um cara engraçado.
Caso eu me lembre de outras situações como essas, volto a contar aqui.
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