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sábado, 1 de setembro de 2012

NEUROSE


Eu estou ficando neurótico. Na aula de prática de interpretação, na faculdade, a professora está ensinando uma técnica chamada note taking. A técnica consiste apenas em anotar números, datas e palavras importantes que o palestrante fala para ajudar o intérprete a lembrar de tudo o que foi dito na hora de traduzir para a plateia. É óbvio que não dá tempo de escrever no bloquinho palavra por palavra dita pelo palestrante (é por isso que são anotadas somente palavras e números cruciais para a memória, bem como alguns símbolos — que são definidos pelo próprio intérprete, para representar palavras ou ideias). Mas adivinhe o que eu faço? Claro, tento transcrever tudo. Enquanto escrevo, não presto mais atenção no que é dito e perco o fio da meada. Ou eu anoto muito pouco, entendo tudo e depois esqueço. É claro que a folha fica imunda de rabiscos, figuras, números e palavras, mas o neurótico aqui quer organizar tudo antes de começar a interpretar.

A neurose vai ficando mais clara, à medida em que começo a fazer certas coisas que são inexplicáveis. Além de querer por em ordem uma coisa que não deve ser passada a limpo, faço outras ainda mais bizarras. Contar moedas, por exemplo. Primeiro, preciso separar as moedas por valor. Algumas, como as de cinquenta centavos, ainda possuem as duas versões em circulação: a velha e a nova. Como se não bastasse a separação por valores, separo por velhas e novas. Então eu fico com uma pilha de moedas de um real, duas de cinquenta centavos, uma de vinte e cinco centavos, duas pilhas de dez e de cinco centavos cada. Em seguida, conto começando pelas de maior valor até chegar as de cinco centavos. Não contente, conto de novo, dessa vez começando pelas moedas de menor valor. Ainda sem confiar no resultado, conto de novo da maior até a menor. O pior de tudo é que quando vou usá-las, descubro que contei errado e sempre falta alguma coisa!

E não acaba por aí. Lavar as mãos é uma neurose que tenho há tempos. Já me peguei acordando no meio da noite só para lavar as mãos. O problema continua enquanto ando e tendo pisar só nas linhas ou nos espaços formados pelo piso, ou quando como e preciso mastigar a comida igualmente dos dois lados. Faz parte também criar desenhos enquanto corto o bife com a faca. Claro que o desenho fica irregular e aí preciso parar de comer até acertar direitinho. Um pedaço de pizza tem de ser comido primeiro pela borda! Se começo a ler um livro, só paro de ler ao final de cada capítulo. Simplesmente não consigo parar no meio de um capítulo e continuar depois. Se não houver outro jeito, na hora de continuar, começo o capítulo de novo.

Os cobertores precisam ser milimetricamente alinhados tanto um em relação ao outro (ponta com ponta) quanto à quantidade de cobertor que cai para os lados da cama. Eu simplesmente não consigo dormir se um lado da cama tem mais cobertor do que o outro! Se eu escrevo algo no papel e traço uma linha para dividir dois assuntos diferentes e a linha não fica reta, eu faço de novo. E se a letra sai um pouco maior do que a outra, eu escrevo tudo de novo. Até acertar.

A ordem correta na hora de entrar no carro é: abrir a porta, colocar o maço de cigarros no painel, sentar no banco, ligar o carro, colocar o cinto, ligar o rádio e acender um cigarro. Eu simplesmente travo quando essa ordem é alterada e não me mexo até entender o que aconteceu. Se eu entro fumando no caro, demoro séculos até dar a partida, tentando refazer a ordem pulando a etapa de acender o cigarro. Se eu colocar o cinto antes de ligar o carro, então, vira um inferno! Nunca vi coisa igual a essa antes.

Bom, vou parando por aqui porque esse texto deve ter seiscentas e sessenta e seis palavras. Putz, deu seisecentas e oitenta e duas palavras. Vou ter de começar tudo de novo! Saco!

Um comentário:

  1. eu fico bem feliz de saber q te incentivei a ter esse espacinho aqui... seus textos são demais, dani! =]

    e procuraria um psiquiatra, se fosse você.

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