Outro dia recebi um livrinho de divulgação de um prédio que ainda estava em construção e a construtora já havia começado a vender as unidades. Há não muito tempo, essa divulgação era feita nos semáforos, com pessoas distribuindo folhetos. Hoje são livros, praticamente manuais de instrução de funcionamento, como se o apartamento fosse uma máquina. E a tendência, pelo que vejo, é essa mesma: transformar as residências em máquinas.
Os computadores controlam tudo hoje em dia. Nesse prédio, por exemplo, ao chegar em casa, o morador usa um controle instalado na parede, perto da porta, para controlar a temperatura do ar-condicionado, volume do som (há caixas de som espalhadas pelo apartamento todo), intensidade da iluminação e etc. Estamos na era da preguiça.
Alguns podem achar que essas facilidades são boas, poupam o tempo, já tão escasso nos dias de hoje, facilitam mesmo a vida. Outras acham que chegamos ao ápice da preguiça. Afinal, já é possível fazer praticamente tudo sem sair de casa. Agora, estamos caminhando para fazer tudo sem sair do sofá. Eu ainda não tenho uma opinião formada a respeito. Embora eu tenha vontade de morar em um apartamento todo automatizado, fico pensando que, no caso do controle quebrar, não vou conseguir nem abrir as cortinas.
Os arquitetos e engenheiros estão pensando em absolutamente tudo. Ou quase. Eles ainda não pensaram em gente como eu, que toma muito cuidado ao andar na rua, a pé ou de carro, mas se acidenta em casa. Eu ainda não sei como minhas canelas ainda estão inteiras. Sou daquele tipo de gente que quando derruba alguma coisa, ao tentar pegar antes de cair no chão, acaba derrubando tudo que está pelo caminho. Tropeços, quedas e objetos quebrados fazem parte do meu cotidiano. Sou daqueles que espirram na frente de um cinzeiro cheio, ignorando completamente todos os outros espaços vazios ao lado. Tenho medo de estantes, porque sei que qualquer dia, quando eu pegar um livro, elas cairão em cima de mim.
Certa vez, dormindo, senti frio. Puxei o cobertor, mas senti que estava um pouco pesado. Achei estranho, acendi a luz e vi que o que me cobria, era o quadro, que deveria estar na parede e que, em algum momento, eu derrubei. Também já acordei com o abajur em cima da minha barriga. E eu tinha o costume de deixar meu cinzeiro em cima da minha barriga enquanto lia antes de dormir. Certa vez, eu não estava com o cinzeiro lá, mas fui apagar o cigarro mesmo assim...
Talvez os arquitetos pensem em pessoas como eu na hora de criar esse tipo de apartamento. Afinal, quanto menos andarmos, menos vamos bater o dedinho nos pés dos móveis. Mas eles não podem esquecer que o controle remoto é um objeto. E como tal, um dia, será perdido em algum lugar que, com certeza, vai me causar outro acidente.
canela: dispositivo para encontrar móveis no escuro.
ResponderExcluirahhh, e q tal um texto sobre compartilhamento de comida???
ResponderExcluiria gostar muitíssimo de entender como funciona a cabeça de quem não reparte batatinhas... hhahahahaha.
(não é zoeira não, viu? acho mesmo q sairia um belo dum texto!)