Duas pessoas, um homem e uma mulher, se conhecem em algum lugar. Um bar, por exemplo. Através da convivência essas duas pessoas vão se conhecendo e, com o passar do tempo, vão se amando, cada vez mais, até a hora em que resolvem formar uma família. É importante lembrar que esse processo já aconteceu antes, com a família de cada um deles.
Graças a essa união, as duas famílias se unem. Não completamente, claro. Até porque, “os do lado de lá” são, dentro dos nossos conceitos, um tanto quanto esquisitos, muito mais do que “os do lado de cá”. Mas isso é absolutamente normal. Quando o casal resolve formar uma nova família, nasce um novo ser. Ou dois. Ou três. Enfim, vamos facilitar as coisas e vamos apenas considerar um. Esse ser, será criado e educado de acordo com os conceitos morais, éticos, religiosos e culturais dos dois seres unidos anteriormente. Ou seja, as esquisitices serão passadas ao futuro estranho. Esse estranho acumulará, portanto, todas as características do pai e da mãe, embora em alguns momentos, especialmente na fase conhecida como adolescência, ele acabe rejeitando tudo isso.
Em muitos casos, essa rejeição o acompanhará até que ele vá a algum lugar que tenha a atmosfera necessária para que ele conheça uma outra pessoa (que reunirá as características de seus pais, que por sua vez reúnem, cada um deles, as características dos seres que os geraram, e assim por diante). Essa nova união irá criar outro ser. E o negócio anda nessas proporções indefinidamente.
A partir disso, podemos levar em consideração os casos em que a união de duas pessoas distintas acaba por gerar mais de um ser. São os chamados irmãos. Irmãos são aqueles que possuem os mesmos pais e a mesma criação que nós. Mas são diferentes. Gostam de coisas diferentes e esse simples fato os levará a conhecer pessoas diferentes. E uma dessas pessoas, irá se unir ao nosso irmão para constituir uma família. Os filhos ( ou filho) resultante dessa união, quando comparado com os nossos, são chamados primos. E aí, tudo fica mais complexo. É nesse momento que muitos passam a não se conhecer mais, mesmo pertencendo à mesma família. Tudo porque as preferências dos irmãos são diferentes.
Um resolve morar em outra cidade ou não gosta de freqüentar os encontros de família (geralmente a do outro) e, somente em ocasiões especiais, como casamentos e enterros, é que se encontram todos (ou quase todos). Isso gera, depois de muito tempo, comentários que imaginávamos que não iríamos ouvir mais, do tipo “como você cresceu”, depois de pelo menos dez anos sem crescer — pois a essa altura, já nos tornamos adultos. Pior do que isso, é o sorriso amarelo que damos à algumas pessoas que nem imaginam que você faz parte da família. Afinal, faz uns quinze anos que não morre ninguém e alguns não vão nos reconhecer mesmo.
Mas de vez em quando, alguma alma santa resolve promover o encontro de todos. Sem nenhuma ocasião especial, a não ser a reunião em si. Então, todos se apresentam a nós, como se fossemos completos desconhecidos (e somos!), explicando que é a tia de um ou marido da outra. Quando as apresentações dão lugar às risadas, com todos já quase completamente à vontade, surge aquele tipo de pergunta: “ Você ainda namora aquela menina?”, referente àquela namorada da sétima série que namoramos por meio mês e que foi apresentada ao parente na ocasião de sua última visita, há mais ou menos dezoito anos.
Nesses encontros, feitos geralmente em algum restaurante, note que sempre um (pelo menos) vai embora bem antes da conta chegar. E enquanto outros tentam calcular o número de pessoas presentes para fazer a divisão, sempre algum some, retornando em seguida só para mostrar que os cálculos estavam errados (porque, apesar de estar lá a noite toda, simplesmente foi esquecido na hora da conta — o que nesse caso, é positivo!). Pois é, isso se chama família!
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