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sábado, 2 de março de 2013

SUBMISSÃO



Há tempos eu digo que brasileiro é submisso por natureza. Vejo isso nas mais diversas formas, sendo, a principal delas, a não exigência de seus direitos como cidadãos. A questão tem dois lados: o primeiro, a não exigência dos seus direitos por falta de conhecimento. Ou seja, o sujeito quer comprar algo com o cartão de crédito e acaba comprando mais do que quer ou precisa, porque a loja estipula um valor mínimo para o uso do cartão. O segundo é o abuso dos direitos. Como o caso que presenciei certa vez, quando um idoso abusou do seu direito de usar uma vaga reservada aos idosos parando o carro de forma a ocupar duas vagas ao mesmo tempo. O elemento parecia bem sadio, forte, andava bem e tudo. Simplesmente não passou pela cabeça dele que, apesar de ter o direito, ele poderia ter deixado a vaga para algum outro velhinho em piores condições de saúde que poderia aparecer por lá. E deu um belo “foda-se” para o tal velhinho que talvez aparecesse ao deixar o seu carro ocupando duas vagas.

Os dois casos mencionados têm uma ligação direta com a submissão. O primeiro, por não conhecer seus direitos, o brasileiro acaba entrando na onda de comprar sem querer ou precisar. O segundo, quando um cidadão exige seus direitos ignorando os direitos dos demais, abusando da ignorância das pessoas e se colocando em uma posição que lhe dá mais direitos do que os outros. E os outros aceitam.

Um caso típico e histórico é o trote universitário. Vejamos: o adolescente está mudando de fase na vida. Está se tornando adulto. Está escolhendo uma profissão que, muito provavelmente, será seu trabalho para o resto da vida. Está assumindo mais responsabilidades e teve uma porta aberta para a universidade, fato que deve ser comemorado. E é. E como se dá essa comemoração? Com a humilhação do jovem, que tem seu rosto e corpo pintados, cabelos raspados, é obrigado a pedir esmolas para os veteranos comprarem bebida e, em casos mais graves, obrigando os calouros a se humilharem mais, como se jogar na lama e tirar a roupa. Há casos conhecidos que resultaram até em morte.

E o jovem em relação a tudo isso? Ele adora. E seu lado sádico não vê a hora de humilhar o próximo.

Sim, nós somos submissos. Submetemo-nos a abusos de autoridade, abusos dos governos e até abusamos dos mais submissos que nós. É a nossa cultura.

Para mim, a coisa é simples: meu direito não anula o seu. O seu não anula o meu. E se quiser comemorar a entrada de alguém na faculdade, faça uma vaquinha e vá comer uma pizza com o calouro, pague do seu bolso, dê os parabéns. Sem humilhá-lo. Faça-o ter orgulho de seus feitos sem que ele precise se machucar ou se ridicularizar. Isso não é ter orgulho. Isso é ser otário.

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