Há tempos eu digo que brasileiro
é submisso por natureza. Vejo isso nas mais diversas formas, sendo, a principal
delas, a não exigência de seus direitos como cidadãos. A questão tem dois
lados: o primeiro, a não exigência dos seus direitos por falta de conhecimento.
Ou seja, o sujeito quer comprar algo com o cartão de crédito e acaba comprando
mais do que quer ou precisa, porque a loja estipula um valor mínimo para o uso
do cartão. O segundo é o abuso dos direitos. Como o caso que presenciei certa
vez, quando um idoso abusou do seu direito de usar uma vaga reservada aos
idosos parando o carro de forma a ocupar duas vagas ao mesmo tempo. O elemento
parecia bem sadio, forte, andava bem e tudo. Simplesmente não passou pela
cabeça dele que, apesar de ter o direito, ele poderia ter deixado a vaga para
algum outro velhinho em piores condições de saúde que poderia aparecer por lá.
E deu um belo “foda-se” para o tal velhinho que talvez aparecesse ao deixar o
seu carro ocupando duas vagas.
Os dois casos mencionados têm uma
ligação direta com a submissão. O primeiro, por não conhecer seus direitos, o
brasileiro acaba entrando na onda de comprar sem querer ou precisar. O segundo,
quando um cidadão exige seus direitos ignorando os direitos dos demais,
abusando da ignorância das pessoas e se colocando em uma posição que lhe dá
mais direitos do que os outros. E os outros aceitam.
Um caso típico e histórico é o
trote universitário. Vejamos: o adolescente está mudando de fase na vida. Está
se tornando adulto. Está escolhendo uma profissão que, muito provavelmente,
será seu trabalho para o resto da vida. Está assumindo mais responsabilidades e
teve uma porta aberta para a universidade, fato que deve ser comemorado. E é. E
como se dá essa comemoração? Com a humilhação do jovem, que tem seu rosto e
corpo pintados, cabelos raspados, é obrigado a pedir esmolas para os veteranos
comprarem bebida e, em casos mais graves, obrigando os calouros a se humilharem
mais, como se jogar na lama e tirar a roupa. Há casos conhecidos que resultaram
até em morte.
E o jovem em relação a tudo isso?
Ele adora. E seu lado sádico não vê a hora de humilhar o próximo.
Sim, nós somos submissos.
Submetemo-nos a abusos de autoridade, abusos dos governos e até abusamos dos
mais submissos que nós. É a nossa cultura.
Para mim, a coisa é simples: meu
direito não anula o seu. O seu não anula o meu. E se quiser comemorar a entrada
de alguém na faculdade, faça uma vaquinha e vá comer uma pizza com o calouro,
pague do seu bolso, dê os parabéns. Sem humilhá-lo. Faça-o ter orgulho de seus
feitos sem que ele precise se machucar ou se ridicularizar. Isso não é ter
orgulho. Isso é ser otário.
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