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sábado, 18 de maio de 2013

TUDO TERMINA BEM. CLARO QUE ÀS VEZES DEMORA!



O primeiro telefonema durou vinte e um minutos e vinte e nove segundos. O segundo, durou cinquenta e oito minutos e quarenta e oito segundos. Isso porque adquiri uma nova linha de celular, na condição de dependência da minha linha principal, para poder trocar o aparelho gratuitamente. Conforme o atendente da loja informou, se eu contratasse uma nova linha (outro chip), o aparelho que custa mais de mil reais sairia gratuitamente. O chip novo custaria por volta de cinquenta reais e eu teria obrigação de ficar com ele apenas um mês, podendo cancelar, se assim desejasse. E foi o que eu fiz.

Durante a primeira ligação, a atendente Priscila, perguntou qual o motivo do cancelamento. Respondi apenas que não quero mais. Foi tudo muito fácil. Ela começou a providenciar o cancelamento e a linha caiu. Foi aí que eu percebi que estava tudo bom demais.

A terrível sensação de ser um prisioneiro de uma chamada telefônica tomou conta de mim, causando ânsia de vômito e pânico. Eu estava tremendo quando ousei ligar de novo.

A segunda ligação foi traumática. O atendente Daniel, mesmo de posse do número de protocolo que me foi informado na primeira ligação, me fez repetir tudo de novo: data de nascimento, CPF, motivo do telefonema, motivo do cancelamento, meu nome, confirmação do número sobre o qual eu queria falar... enfim, tudo o que já havia sido perguntado na primeira vez e que deveria, pela lógica, estar arquivado no sistema. Eu não sei, mas a minha lógica diz que o número de protocolo deve servir justamente para evitar a repetição de informações fornecidas previamente. Mas a lógica do telemarketing é outra. A lógica do telemarketing é a seguinte: em casos de cancelamento, faça o cliente desistir.

Diante de várias informações que não faziam sentido, Daniel tentava me manter com a segunda linha. Eu tentei explicar, muitas vezes, que por mais barato que fosse, não fazia sentido pagar por algo que eu não uso. Ele ainda tentava argumentar, com a destreza que só esse tipo de profissional tem.

— Senhor, a operadora reconhece que o senhor é um ótimo cliente. Por isso, preciso te dar algumas informações sobre essa linha adicional...

— Eu quero cancelar! — retruquei abruptamente. Ele não se intimidou:
— Senhor, eu estou te passando informações e o senhor se recusa a ouvir...
— Eu quero cancelar! Você, por acaso, está querendo dificultar o cancelamento? — perguntei, sabendo que a ligação estava sendo gravada.

— De forma nenhuma, senhor. Mas preciso passar informações antes de proceder. Ele se recusou a entender que todas essas informações já haviam sido passadas na chamada anterior. E continuou:

— Pense no caso de algum familiar que pode usufruir dos mesmos benefícios que o senhor tem na linha principal... 

— Amigo, eu não tenho família. Sou sozinho no mundo. Morreram todos, meu pai, minha mãe, meus filhos, mulher, todos foram enterrados já! — Me perdoem os politicamente corretos, mas não me contive. Eu realmente precisava dar um drama para ver se ele terminava logo aquilo tudo. Mas atendentes de telemarketing são desprovidos de bom senso.  Verificando em seu sistema que a informação fúnebre era completamente falsa, fato que ele deduziu apenas por perceber que eu tenho uma linha de telefone fixo (o que me fez acreditar, por poucos segundos que eu estava conversando com o Sherlock Holmes da telefonia celular brasileira), ele continuou sua argumentação, para provar que era super vantajoso pagar quase vinte reais por mês por um serviço que eu não utilizaria. E então, a série de descontos começou. De cinco em cinco, consegui, sem querer, 30% na linha adicional.

Mas eu sou forte. Se ele é o Sherlock Holmes, eu sou o Wolverine.

— Quero cancelar. Verifique aí no seu sistema quantas vezes eu fiz uso da linha adicional.
— Senhor, essa é a primeira coisa que nós vemos...
— Então me fale quantas vezes eu usei — desafiei.
— Mas senhor, é de extrema vantagem... — interrompi antes que ele conseguisse terminar de pronunciar “vantagem”:
— Eu perguntei quantas vezes eu usei!

Depois de mais alguns minutos discutindo, brigando por algo que é um direito meu e que não deveria ser tão difícil conseguir, depois de mais argumentações, nas quais ele insistia em dizer todos os descontos que eu teria (e que ainda assim seriam mais caros do que eu estou pagando, vejam só) e quando eu já planejava meu próximo argumento, propondo que a operadora deveria então me dar a linha adicional com 100% de desconto e ainda depositar vinte reais todo mês na minha conta no período de um ano, ele se convenceu e deu prosseguimento ao meu pedido. Ainda tentou me comover dizendo que eu não precisava penalizar o atendente (ele). Não deu certo. Eu venci. Cancelei a linha adicional!

Atendente Daniel, me desculpe. Não há nada pessoal, ok? Eu sei que a chatice faz parte do seu treinamento. Mas eu consigo ser mais chato do que todos vocês juntos.

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