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domingo, 23 de setembro de 2012

SUPER-HOMEM



O Super-Homem é um exemplo de bondade e justiça, nunca mente, é honesto e sempre vê o lado bom das pessoas. Alguns estudiosos dizem que ele é o equivalente a Jesus Cristo nos gibis. A comparação até faz sentido: Assim como Jesus, o Super não é daqui, foi enviado por uma raça superior e é único entre os homens. É o exemplo a ser seguido. Mas eu descobri que ele também tem seu lado malandro.

Já começa por casar com Lois Lane, uma gostosona. Ele deveria casar com uma mulher feia, de baixa auto-estima e não com a versão feminina humana dele mesmo, independente, lutadora, justa e capaz. Ou deveria permanecer solteiro. E é sobre esse relacionamento que eu vou falar hoje.

Quem já assistiu filmes, séries ou leu alguma coisa do herói, já viu a cena que, nas preliminares de uma noite de amor ele se ausenta por um segundo e volta com uma garrafa de vinho (ou champanhe, sei lá). A minha pergunta é: como ele compra tão rápido? Super velocidade? Bom, a super velocidade dele permite que ele vá até a loja, escolha e volte em um segundo, mas devemos lembrar que o atendente da loja não tem super velocidade. E é ele quem vai cobrar a mercadoria, contar o dinheiro, dar o troco e colocar o produto na sacolinha! E, geralmente, o Super faz esse tipo de compra à noite, horário que os atendentes estão mau-humorados, com sono e extremamente lerdos.

Você pode até argumentar que ele usa cartão de crédito, o que é viável. Mas vejamos: ele passa pelo caixa, dá o cartão, o atendente escolhe a opção débito, o Super pede para corrigir e colocar crédito, o atendente cancela e refaz toda a operação. O aparelho pede a senha, o Super digita e lá se vão mais alguns segundos até a máquina se ligar à central e dar erro. A operação recomeça e, se der sorte de não dar linha ocupada, em dois ou três minutos o Super consegue comprar a garrafa de bebida.

Caso o nosso herói compre sempre na mesma loja, tudo bem, o atendente já deve estar acostumado com sua presença. Mas se ele frequenta lojas diferentes, teria que parar para dar autógrafos e tirar fotos. Isso consumiria muito tempo e seria extremamente egoísta da parte dele, nosso herói tão bondoso e certinho, um nerd de capa, dizer que está atrasado e voar pra longe sem atender aos apelos dos fãs só para comer a Lois Lane!

Mas lembre-se de que ele saiu e voltou em apenas um segundo. Como ele consegue? Ele até poderia ir e voltar em um segundo. Poderia evitar uma sessão de fotos com os fãs, mas de forma nenhuma ele conseguiria aumentar a velocidade do atendente! Isso sem contar que a bebida que ele quer poderia estar em falta, o que o forçaria a ir a outro lugar. Mas ele faz isso tudo em um segundo. E, geralmente, a garrafa vem acompanhada de flores que ele colheu no Brasil. Quer dizer que ele foi a uma loja de conveniência, pegou uma garrafa de vinho (ou seja lá o que for aquilo), pagou, digitou senha ou recebeu troco, tirou fotos com fãs, veio ao Brasil, colheu flores e voltou para os braços da amada, em um segundo?

É óbvio que ele rouba a garrafa!

sábado, 1 de setembro de 2012

NEUROSE


Eu estou ficando neurótico. Na aula de prática de interpretação, na faculdade, a professora está ensinando uma técnica chamada note taking. A técnica consiste apenas em anotar números, datas e palavras importantes que o palestrante fala para ajudar o intérprete a lembrar de tudo o que foi dito na hora de traduzir para a plateia. É óbvio que não dá tempo de escrever no bloquinho palavra por palavra dita pelo palestrante (é por isso que são anotadas somente palavras e números cruciais para a memória, bem como alguns símbolos — que são definidos pelo próprio intérprete, para representar palavras ou ideias). Mas adivinhe o que eu faço? Claro, tento transcrever tudo. Enquanto escrevo, não presto mais atenção no que é dito e perco o fio da meada. Ou eu anoto muito pouco, entendo tudo e depois esqueço. É claro que a folha fica imunda de rabiscos, figuras, números e palavras, mas o neurótico aqui quer organizar tudo antes de começar a interpretar.

A neurose vai ficando mais clara, à medida em que começo a fazer certas coisas que são inexplicáveis. Além de querer por em ordem uma coisa que não deve ser passada a limpo, faço outras ainda mais bizarras. Contar moedas, por exemplo. Primeiro, preciso separar as moedas por valor. Algumas, como as de cinquenta centavos, ainda possuem as duas versões em circulação: a velha e a nova. Como se não bastasse a separação por valores, separo por velhas e novas. Então eu fico com uma pilha de moedas de um real, duas de cinquenta centavos, uma de vinte e cinco centavos, duas pilhas de dez e de cinco centavos cada. Em seguida, conto começando pelas de maior valor até chegar as de cinco centavos. Não contente, conto de novo, dessa vez começando pelas moedas de menor valor. Ainda sem confiar no resultado, conto de novo da maior até a menor. O pior de tudo é que quando vou usá-las, descubro que contei errado e sempre falta alguma coisa!

E não acaba por aí. Lavar as mãos é uma neurose que tenho há tempos. Já me peguei acordando no meio da noite só para lavar as mãos. O problema continua enquanto ando e tendo pisar só nas linhas ou nos espaços formados pelo piso, ou quando como e preciso mastigar a comida igualmente dos dois lados. Faz parte também criar desenhos enquanto corto o bife com a faca. Claro que o desenho fica irregular e aí preciso parar de comer até acertar direitinho. Um pedaço de pizza tem de ser comido primeiro pela borda! Se começo a ler um livro, só paro de ler ao final de cada capítulo. Simplesmente não consigo parar no meio de um capítulo e continuar depois. Se não houver outro jeito, na hora de continuar, começo o capítulo de novo.

Os cobertores precisam ser milimetricamente alinhados tanto um em relação ao outro (ponta com ponta) quanto à quantidade de cobertor que cai para os lados da cama. Eu simplesmente não consigo dormir se um lado da cama tem mais cobertor do que o outro! Se eu escrevo algo no papel e traço uma linha para dividir dois assuntos diferentes e a linha não fica reta, eu faço de novo. E se a letra sai um pouco maior do que a outra, eu escrevo tudo de novo. Até acertar.

A ordem correta na hora de entrar no carro é: abrir a porta, colocar o maço de cigarros no painel, sentar no banco, ligar o carro, colocar o cinto, ligar o rádio e acender um cigarro. Eu simplesmente travo quando essa ordem é alterada e não me mexo até entender o que aconteceu. Se eu entro fumando no caro, demoro séculos até dar a partida, tentando refazer a ordem pulando a etapa de acender o cigarro. Se eu colocar o cinto antes de ligar o carro, então, vira um inferno! Nunca vi coisa igual a essa antes.

Bom, vou parando por aqui porque esse texto deve ter seiscentas e sessenta e seis palavras. Putz, deu seisecentas e oitenta e duas palavras. Vou ter de começar tudo de novo! Saco!
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