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sexta-feira, 8 de março de 2013

Chuva



Depois de mais de três horas sem luz, duas terríveis constatações: a luz sempre acaba à noite ou ao entardecer e o meu prédio é o único sem luz na rua.

A falta de energia foi causada pela chuva fortíssima desta tarde. Ou a chuva foi realmente muito forte, ou o Chuck Norris passou por aqui. O saldo foi emocionante: cinco explosões de transformadores na rua, sendo que a última delas aconteceu do outro lado da rua, bem no momento que o infeliz aqui resolveu olhar pela janela (me senti como se estivesse sendo atacado pelo Tocha Humana. Essa impressão vai ficar em minha memória pro resto da vida), árvores caídas por todo lugar e, uma delas, foi partida ao meio (vento ou raio, sei lá) e sua metade caiu dentro do prédio.

Outra árvore caiu bem em cima de um carro que, pela lógica, passava por uma rua vizinha, provavelmente fugindo do alagamento. Até onde sei, não houve vítima, mas o carro foi destruído. Ele estava parado no meio da via e, por conta disso, o trânsito ficou infernal. Um motorista de ônibus (tinha que ser) inventou de passar pelo resto de rua que sobrou. Super hábil, experiente e teimoso, ele conseguiu entalar o ônibus e piorou o já caótico tráfego do local.

O semáforo foi virado pelo vento e passou a apontar para a outra rua. A garagem do prédio encheu. Lá fui eu tirar o carro da garagem, que por sorte não tinha tanta água assim. Pelo menos, não o suficiente para entrar dentro dos automóveis. “Não morri por causa da explosão do transformador e agora vou morrer vítima de leptospirose”, pensei. As ruas estavam totalmente alagadas. As que não estavam, eram intransitáveis. Só dava pra passar a pé.

A água arrastou três carros, uma lata de lixo e um colchão, isso só pelas minhas contas.Outros tantos carros foram cobertos pela água. As pessoas desciam dos ônibus e continuavam a pé seus caminhos.
Isso tudo que descrevi se refere a um perímetro de apenas um quarteirão. Fico imaginando como ficou o resto da cidade.

Veja as fotos  aqui


sábado, 2 de março de 2013

SUBMISSÃO



Há tempos eu digo que brasileiro é submisso por natureza. Vejo isso nas mais diversas formas, sendo, a principal delas, a não exigência de seus direitos como cidadãos. A questão tem dois lados: o primeiro, a não exigência dos seus direitos por falta de conhecimento. Ou seja, o sujeito quer comprar algo com o cartão de crédito e acaba comprando mais do que quer ou precisa, porque a loja estipula um valor mínimo para o uso do cartão. O segundo é o abuso dos direitos. Como o caso que presenciei certa vez, quando um idoso abusou do seu direito de usar uma vaga reservada aos idosos parando o carro de forma a ocupar duas vagas ao mesmo tempo. O elemento parecia bem sadio, forte, andava bem e tudo. Simplesmente não passou pela cabeça dele que, apesar de ter o direito, ele poderia ter deixado a vaga para algum outro velhinho em piores condições de saúde que poderia aparecer por lá. E deu um belo “foda-se” para o tal velhinho que talvez aparecesse ao deixar o seu carro ocupando duas vagas.

Os dois casos mencionados têm uma ligação direta com a submissão. O primeiro, por não conhecer seus direitos, o brasileiro acaba entrando na onda de comprar sem querer ou precisar. O segundo, quando um cidadão exige seus direitos ignorando os direitos dos demais, abusando da ignorância das pessoas e se colocando em uma posição que lhe dá mais direitos do que os outros. E os outros aceitam.

Um caso típico e histórico é o trote universitário. Vejamos: o adolescente está mudando de fase na vida. Está se tornando adulto. Está escolhendo uma profissão que, muito provavelmente, será seu trabalho para o resto da vida. Está assumindo mais responsabilidades e teve uma porta aberta para a universidade, fato que deve ser comemorado. E é. E como se dá essa comemoração? Com a humilhação do jovem, que tem seu rosto e corpo pintados, cabelos raspados, é obrigado a pedir esmolas para os veteranos comprarem bebida e, em casos mais graves, obrigando os calouros a se humilharem mais, como se jogar na lama e tirar a roupa. Há casos conhecidos que resultaram até em morte.

E o jovem em relação a tudo isso? Ele adora. E seu lado sádico não vê a hora de humilhar o próximo.

Sim, nós somos submissos. Submetemo-nos a abusos de autoridade, abusos dos governos e até abusamos dos mais submissos que nós. É a nossa cultura.

Para mim, a coisa é simples: meu direito não anula o seu. O seu não anula o meu. E se quiser comemorar a entrada de alguém na faculdade, faça uma vaquinha e vá comer uma pizza com o calouro, pague do seu bolso, dê os parabéns. Sem humilhá-lo. Faça-o ter orgulho de seus feitos sem que ele precise se machucar ou se ridicularizar. Isso não é ter orgulho. Isso é ser otário.
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